CURITIBA SOB OS OLHOS PORTENHOS

Vinte dias em Curitiba
Quando um portenho chega à Curitiba a primeira coisa que ele descobre é que não há tensão no ar. O quê eu quero dizer? Minha impressão foi que as pessoas estão em calma. Se isso se deve a que é uma cidade relativamente pequena ou porque faz parte da cultura brasileira, eu ainda não sei. Mas gostei dessa sensação de “serenidade geral”, de ordem social, de bom humor, de respeito. Lembrei o Canadá, onde eu estudei parte do meu mestrado.
Embora eu tenha ido a trabalho e a estudo de português, fiz tempo para olhar a conduta dos cidadãos, das pessoas que caminham pelas ruas, que desfrutam dos parques da cidade, que visitam os museus.
O tráfego também é organizado. Os carros não mudam de faixa, não tocam a bocinha, param quando a sinal muda ao vermelho e não param na faixa de pedestres. Embora a velocidade dos carros e ônibus seja mais alta da que possível ver em outras grandes cidades, os condutores respeitam as normas de tráfego. Em três semanas não escutei nenhuma discussão nas ruas, nem entre condutores, nem entre estes e os pedestres. Parece que todos tenham aceitado que é melhor ser paciente. Isso é parte da cultura brasileira? Também não sei, mas adorei!
Tudo começa cedo aqui. O sol aparece às 6hs e o crepúsculo dura pouco, produto da –relativa- maior proximidade ao Equador. É possível observar que os empregados chegam aos escritórios às 8hs e fazem uma pausa para almoço ao redor do médio dia. E mais ou menos a cinco da tarde todos se preparam para voltar a casa, porque às 18hs a luz do dia começa a desaparecer. Lembremos que é inverno, não é? A temperatura é agradável, produto da altura –uns 900 metros sobre o nível do mar- e da proximidade ao mar que, a vôo de pássaro, fica a uns 70 km.
Nas organizações as coisas são bem ordenadas. Por exemplo, eu tive que interatuar com três diariamente –o hotel, o restaurante e a escola de Português- e com varias empresas com frequência semanal. Embora eles não sejam uma mostra representativa, são bons exemplos. Pontualidade e cortesia são regras, limpeza fica imprescindível. Visitei também lugares turísticos, como o mercado municipal, o museu Oscar Niemeyer (ótimo), os shoppings e as lojas. Viajei de trem até Morretes, perto do porto de Paranaguá. Todo limpo.
Fiquei surpreendido de saber que as livrarias que vendem livros usados (chamadas de sebo) têm todos os exemplares perfeitamente classificados, como se fossem as de livros novos. As que, já que as menciono, também têm todo tipo de bibliografia.
Embora o nível da instrução de uma pessoa possa ser baixo, todo o mundo é gentil aqui. O vendedor ambulante, a garota que está na entrada do cinema, o gerente que espera a sua visita, as respostas vêm invariavelmente com um sorriso. Cortesia é a norma.
Vi poucas bandeiras brasileiras, mas as que eu vi estavam impecáveis. A cidade está limpa, seja porque as pessoas não jogam lixo, seja porque a prefeitura tenha contratado um bom serviço, o fato é que vi poucos papeis nas ruas. E as flores dos parques também ficam bem cuidadas. De novo, todo isso me fez lembrar Canadá e os Estados Unidos.
No livro “O subdesenvolvimento está na mente” (Lawrence Harrison, 1985) ele fala de uma condição que é importante para que uma sociedade possa progredir, para fazer negócios, arriscar investimentos. O raio de confiança, isto é, se as pessoas confiam mais longe do que sua própria família, dos seres queridos. E acho que isso está vinculado à ingenuidade. Sim, à capacidade de confiar pelo simples fato de que a palavra doutro ser humano merece ser respeitada. Eu senti isso quando estudava em Toronto. E também quando visitei os Estados Unidos muitas vezes, a trabalho. O curitibano tem essa atitude. Todos os brasileiros também? Acho que sim.
Durante a viagem em avião à Buenos Aires –onde estou escrevendo estas linhas- me perguntei se eu puder morar em Curitiba, caso eles me oferecerem. A resposta é que posso considerá-lo, sim.

Alberto Messidoro